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Cemitério de Pianos, de José Luís Peixoto

José Luís Peixoto abre espaços dentro das palavras, e lá dentro consegue meter vastas planícies de silêncios, pequenos sons, paletas de cores, rios inteiros de águas lodosas que arrastam o tempo para outra dimensão. Ao lê-lo, a noção do tempo altera-se, o pulsar do coração torna-se mais lento, pesado, tranquilo, até acabarmos por conseguir sentir os segundos entre os dedos. A luz também se altera, e desdobra-se infinitas vezes até ao âmago da escuridão, aquele ponto em que ambas, luz e escuridão, se misturam e tecem nas sombras. A luz demora-se nas esquinas, nas arestas, nas superfícies e espelha-se, com um brilho invulgar, mágico, na retina translúcida do olhar que era o nosso, na infância já longínqua, hoje apenas um pontinho minúsculo no horizonte enevoado. As palavras dilatam, como o tempo, e albergam dentro delas o princípio e o fim do mundo, das vidas simples que descrevem, do cheiro da terra seca ao sol e da mesma terra molhada das chuvas. São mundos dentro de outros mundos, qu