Apaixonei-me por um livro, amanhã no Jornal de Letras
Um Festival Literário não se esgota nas conferências, conversas e convívio entre escritores, organizadores e jornalistas. Quando, no dia 16 de Abril, embarquei no Aeroporto do Funchal, de regresso a Londres, trazia na mala um punhado de estórias que as pessoas e os lugares que visitei me foram contando ao longo daqueles cinco dias. Fui até à Fajã da Ovelha com o Duarte, a Manuela e o Francisco, onde nos perdemos no nevoeiro à procura da escola e não conseguíamos ver a Igreja que toda a gente nos indicava como ponto de referência. Chegámos a desconfiar de que, por aquelas bandas, se chamava Igreja a locais mais prosaicos de práticas de rituais de convívio e consumo de bebidas espirituosas. Ouvi relatos sobre as cheias de 2010 e pressenti o horror da tragédia no relevo acidentado da ilha, nas ribanceiras e escarpas que se abatem na ferocidade do mar, na voz de quem me falava de algo que parecia ter sucedido, não há seis anos, mas ontem, porque a dor estanca o correr do tempo e não deixa enterrar os mortos. Caminhei pelo porto e a marina, onde os cruzeiros se erguem como gigantes réplicas, não de arranha-céus, mas de arranha-mares, e pisei os patamares ajardinados que se construíram por cima do morro de destroços que as enxurradas arrastaram até ali. A belíssima pintura do tecto do Teatro Baltazar Dias, assim como as paredes, os camarotes e os estofos de veludo escarlate, também me sussurraram vultos, memórias, pedaços de vidas, que me limitei a guardar no fundo dos bolsos. No concerto do Jorge Palma, aquele espaço ganhou outra dimensão ao som das vozes, da música, do ritmo, das luzes. E a magia aconteceu. O resultado sai amanhã, em texto, na rubrica Diário do Jornal de Letras: Apaixonei-me Por Um Livro. Façam o favor de ler.