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Showing posts from July, 2020

Distância de Insegurança - Diário da Pandemia

6 de Abril 2020  Não pretendo que isto se torne um diário. Não sei que nome dar a isto. São apenas coisas que me passam pela cabeça. Pensamentos velozes. O mundo está parado e o pensamento é a única coisa que corre, para além dos rios. Ou será o contrário? Vemo-nos estagnados, em casa; o corpo insiste em sair e correr para manter a ilusão de movimento, mas no fundo de si tudo está parado, o olhar fixo num ponto lá muito ao fundo, tentando vislumbrar uma réstia de esperança; permanecemos imóveis e o mundo vertiginoso na sua corrida louca em redor do astro rei; os corpos caem no campo de batalha mas não estamos lá para ver, só o silêncio, e a ausência rapidamente se confunde com indiferença, fica o coração confundido; devemos chorar, espremer a angústia até ao tutano, ou dar graças por não ser connosco? Os pensamentos sucedem-se em linha recta e às curvas. No outro dia, os miúdos falavam entre eles, um dizia que os pensamentos ficam destituídos de moralidade se não se concretizarem num

Capitolina Revista - Uma publicação dedicada à literatura em língua portuguesa

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A Capitolina Revista é uma publicação inteiramente dedicada à literatura em língua portuguesa com edição de Nara Vidal, autora brasileira distinguida com o Prémio Oceanos para o romance Sorte. Nela colaboram Silvia Gasparoni, responsável pela Lusoteca na revista online LuciaLibri, e que faz toda a paginação e design gráfico em PDF, Carla Bessa, escritora, tradutora e resenhista, que escreve resenhas literárias, e Gabriela Ruivo Trindade, moi-même , com a rubrica As Personagens da minha Vida, em que escritores nos apresentam personagens literárias que os marcaram, e matérias várias. Revista:  https://www.capitolinabooks.com/revista-oblique Artigo da Silvia Gasparoni na revista LuciaBibri sobre a Capitolina (de onde foi retirada a composição fotográfica): https://www.lucialibri.it/2020/07/23/capitolina-vitalita-lusofona/

Distância de Insegurança - Diário da Pandemia

5 de Abril 2020  Hoje o sol brilha e está calor. Calor. O Tesco tem fila à porta mas no parque de estacionamento, não. As toalhitas para limpar o varão do carrinho das compras esgotaram, parece, porque no seu lugar está um vaporizador e uns panos descartáveis. Será que não percebem que é a mesma coisa? Em vez de as pessoas apanharem o vírus no varão, vão apanhá-lo no frasco do vaporizador, a não ser que usem luvas. As medidas de segurança a relaxarem. Não estamos ao nível de um Brasil, e talvez nem de uns Estados Unidos, mas estamos muito longe de uma Alemanha, ou França, ou Portugal. O meu país a ser modelo de eficiência na contenção do vírus. Nós, aqui, ainda estamos meio a dormir. Talvez porque o sol brilhe e as pessoas se recusem a acreditar. A mim também me custa. Os miúdos estão em casa, e essa é a parte anormal. Estão em casa o tempo todo. É bom, claro, por enquanto, que ainda não nos fartámos uns dos outros. É preciso impor de novo uma disciplina há muito esquecida, porque co

Distância de Insegurança - Diário da Pandemia

4 de Abril 2020  O sol continua lá. As árvores, os pássaros. Tudo no mesmo sítio. Ainda olhamos o céu em busca de sinais. E evitamos os abismos da alma por os sabermos sem fundo. Onde podemos enterrar o medo, se nem carregá-lo nas mãos? Vivemos um dia a seguir ao outro. Continuamos a trabalhar, a lavar a cara de manhã. Há vozes que nos chegam e preferimos ignorar. De longe. Precisamos de nos concentrar no ruído. O silêncio traz pressentimentos fúnebres. Os cortejos de camiões militares carregando corpos. Como poderemos ser os mesmos depois disto? E agora, aqui? Nada mudou à nossa volta, as nuvens continuam a pairar. Chove. Sentimos frio. Ainda respiramos. Transplantamos a vida para dentro de quatro paredes, como se fosse possível. Dizemos às crianças que está tudo bem. Que vai ficar tudo bem. Dizemos a nós mesmos. Voltamos à infância, ao reino do absurdo, onde todos podemos ser reis, e princesas. Cremos ingenuamente naquilo que repetimos constantemente, em surdina, como uma prece. Sem

Distância de Insegurança - Diário da Pandemia

30 de Março 2020  Ela seguia o pasmo, a incredulidade dos amigos e conhecidos durante a quarentena. Todos eles estrangeiros nesta terra de ninguém. Pelo menos assim parecia. Todos, menos ela. Já conhecia aquelas paragens há muito. Desde que se conhecia por gente. Sempre vivera em quarentena. Nada era novo. A sensação de perigo iminente, sempre a antecipar cenários catastróficos, desgraças, calamidades. Vivia-lhe no sangue. Era talvez a força que bombeava o coração, o medo. Um companheiro para a vida. O desastre acontecera há muito. Tanto, que não se recordava ao certo. Um naufrágio, um maremoto, uma enxurrada, um aluviamento de terras. Ficara só no mundo. A única sobrevivente. Ninguém testemunhara o seu desespero. Ninguém aliviara as suas feridas. Ninguém a consolara. Ninguém. E quando não há testemunhas, a realidade escapa-se-nos, os sentidos traem-nos. Se ninguém estava lá para ver, será que aconteceu mesmo? Terá sido imaginação? Se pudéssemos fechar os olhos e acordar deste pesa

III Antologia de Poetas Lusófonos na Diáspora

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Uma publicação Oxalá Editora. Autores:  Sarah Virgi. Paula De Lemos. António Barbosa Topa. Gabriela Ruivo Trindade. António Magalhães. Dominique Stoenesco. Irene Marques. Maria Beatriz Ferreira. Maria do Rosário Loures.  Artur Fernandes. Neusa Sobrinho Amtsfeld. Isaac Nin. Ana Casanova. António da Cunha Duarte Justo. Fernando Viriato Matos. José Luís Correia. Pedro Monterroso. São Gonçalves. Naria Radatos. Rosana B. L. Bouleh. Ana Carla Gomes Fedtke. Marília Andreä . Vitor Gonçalves. Tonito Espanhol. Eberhard Fedtke. https://www.oxalaeditora.com/livros/poetas-lus%C3%B3fonos-iii-antologias/

Correr Mundo - Dez Mulheres, Dez Histórias de Emigração

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Colectânea de contos Correr Mundo - Dez Mulheres, Dez Histórias de Emigração, publicada pela Oxalá Editora. Autoras:  Irene Marques,  Toronto (Prémio literário Imprensa Nacional/Ferreira de Castro 2019)  , Paula De  Lemos , Trier, Luísa Costa Hölzl,  Munique, Luísa Semedo, Paris)  Gabriela Ruivo Trindade, Londres (Prémio Leya 2013), Maria João Dodman, Toronto, São Gonçalves, Luxemburgo, Luz Marina Kratt ,Bodensee, Helena Araújo, Berlim, Altina Ribeiro, Paris. https://www.oxalaeditora.com/livros/correr-mundo/