Distância de Insegurança - Diário da Pandemia
6 de Abril 2020 Não pretendo que isto se torne um diário. Não sei que nome dar a isto. São apenas coisas que me passam pela cabeça. Pensamentos velozes. O mundo está parado e o pensamento é a única coisa que corre, para além dos rios. Ou será o contrário? Vemo-nos estagnados, em casa; o corpo insiste em sair e correr para manter a ilusão de movimento, mas no fundo de si tudo está parado, o olhar fixo num ponto lá muito ao fundo, tentando vislumbrar uma réstia de esperança; permanecemos imóveis e o mundo vertiginoso na sua corrida louca em redor do astro rei; os corpos caem no campo de batalha mas não estamos lá para ver, só o silêncio, e a ausência rapidamente se confunde com indiferença, fica o coração confundido; devemos chorar, espremer a angústia até ao tutano, ou dar graças por não ser connosco? Os pensamentos sucedem-se em linha recta e às curvas. No outro dia, os miúdos falavam entre eles, um dizia que os pensamentos ficam destituídos de moralidade se não se concretizarem...